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quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

O retrato de uma geração


Observe as fotos destas páginas. Qual dos jovens simboliza melhor os hábitos, os valores, as aspirações e o ponto de vista de 28 milhões de brasileiros entre 15 e 22 anos? Escolhemos publicar muitas imagens para, dessa forma, expressar a diversidade de estilos visuais, que é uma das marcas da juventude atual. Para entender o que significa ser jovem hoje no Brasil, VEJA consultou estudos acadêmicos e pesquisas de opinião pública de abrangência nacional, entrevistou especialistas e – o que foi mais revelador – conversou com adolescentes. O retrato que emerge é inesperado em muitos aspectos. Comparemos, por exemplo, o estereótipo do garotão que não liga para nada e o resultado das enquetes realizadas com adolescentes sobre seus planos para o futuro. O que se descobre é que os sonhos dessa geração estão relacionados à carreira e aos estudos. A maioria sabe que terá de estudar muito e se preparar arduamente para enfrentar a concorrência no mercado de trabalho.
A primeira geração de adolescentes do século XXI está amadurecendo num país muito diferente daquele das gerações anteriores. O Brasil está pronto, em vários sentidos, para o mundo moderno. Dispõe de um parque industrial evoluído, é integrado por um sistema de comunicações por satélite e as disparidades culturais regionais são bem menores que as existentes nas décadas de 60 e 70. É também um país em que a população urbana superou a rural com larga folga. Os jovens de hoje constituem um reflexo da vida em cidades grandes e metrópoles, rica em termos de produção cultural e oportunidades. Estão inteiramente à vontade no mundo tecnológico. São os brasileiros mais bem informados de todos os tempos, e sua maneira de pensar e agir foi influenciada desde o jardim-de-infância pelo mundo veloz e multifacetado da tecnologia. Isso tudo dá a essa juventude características inéditas e fascinantes.
Para pautar a presente edição especial, VEJA adotou como critério dividir as matérias de acordo com os temas de maior interesse dos adolescentes. E, por certo, também aqueles que mais preocupam seus pais. Esse elenco de assuntos corresponde ao apurado em perfis de comportamento realizados por instituições especializadas, na opinião de nossos consultores e nas entrevistas diretas feitas com jovens de todo o país. O conjunto é um retrato como poucas vezes se traçou de uma geração. Foi pensado para que o adolescente disponha de informações que o ajudem a refletir e ir em frente com o processo de amadurecimento. Para os pais, é uma oportunidade de olhar para dentro do mundo dos filhos.  





Na hora de escolher a carreira, é bom se informar, planejar em longo prazo e não temer uma guinada no futuro

Assustados, confusos, indecisos. É assim que muitos jovens se sentem na hora de escolher sua profissão, às vésperas das inscrições para os vestibulares. Aquela certeza desde pequeno do que se vai ser quando crescer não rolou. Surge o medo de não dar certo. E a angústia aperta mais diante do variado leque de alternativas de curso superior. São mais de 150 e, a cada dia, surgem novas opções de carreiras e de oportunidades de trabalho. O que fazer? Esse turbilhão de dúvidas não deve ser encarado como um problema grave. Especialistas garantem que a insegurança diante da escolha profissional é um sintoma saudável e produtivo. Com vários caminhos abertos à sua frente, o indeciso tem maiores chances de escolher melhor do que quem apóia sua certeza em fantasias. Por isso, recomenda-se que essa fase da vida seja enfrentada com tranqüilidade pelos jovens e sua família. Afinal, toda decisão pressupõe incertezas e uma dose de risco. E esse é o primeiro grande desafio do jovem diante do novo e do desconhecido.
Uma forma de diminuir a pressão é saber que essa escolha profissional não é necessariamente definitiva. Novos caminhos vão surgir durante a faculdade, o mercado de trabalho pode exigir adaptações ou uma grande guinada na carreira. "A faculdade deve ser encarada como a escolha de uma plataforma, um alicerce para a construção da vida profissional", afirma Rubens Gimael, especialista em desenvolvimento de carreira da NeoConsulting. É comum encontrar engenheiros trabalhando na área de finanças, arquitetos se dedicando à área comercial, economistas cuidando de marketing. A mudança não significa fracasso nem frustração, mas sim a aceitação de desafios que a vida vai trazendo. Escolher uma profissão representa esboçar um projeto de vida, questionar valores, as habilidades, o que se gosta de fazer, a qualidade de vida que se pretende ter. E esse momento de reflexão pode render bem mais quando é compartilhado com a família. Mas, por excesso de liberalismo, muitos pais se omitem com a desculpa de não querer interferir na vida dos filhos.
Um passo importante para o jovem indeciso é investigar, reunindo informações sobre as profissões e cursos oferecidos pelas faculdades. Há ainda a opção de buscar apoio em empresas de orientação vocacional. As transformações econômicas que atingiram o mundo de forma global impulsionaram novas e promissoras carreiras. São as profissões que envolvem inovações tecnológicas e áreas de inteligência e conhecimento. As carreiras tradicionais, como medicina, direito, engenharia, letras e administração, ainda são as mais procuradas nos vestibulares. Elas se renovaram e ganharam áreas de atuação que prometem sucesso e bons rendimentos, como o campo de biotecnologia para os advogados e o de meio ambiente para engenheiros. É bom também ficar antenado com o crescimento dos setores de serviços, lazer e entretenimento, meio ambiente e projetos sociais. Eles abriram oportunidades atraentes de trabalho para os profissionais com formação em biologia e educação física, que andavam em baixa, e valorizaram cursos que antes eram considerados de segunda linha, como relações internacionais, turismo e hotelaria.
Em meio a tantas opções, o estudante deve ficar atento a algumas armadilhas. A primeira delas é acreditar que cursar uma boa faculdade vai livrá-lo do desemprego e assegurar o sucesso profissional. Uma boa escola pode até abrir portas no início da carreira, mas vale lembrar que existem muitos profissionais em altos cargos nas empresas que não vieram de cursos de primeira linha. Para os especialistas em recursos humanos, o sucesso numa profissão depende de 30% de conhecimento e 70% de atitude. Da mesma forma, decidir-se por uma carreira apenas porque ela está em alta no mercado normalmente é o caminho mais rápido para o abandono de uma profissão. "Quem não leva em conta sua afinidade com uma carreira ao fazer uma escolha fatalmente desistirá dela quando a oferta de trabalho cair", afirma a psicóloga Renata Mello, da equipe de orientação profissional do Centro de Integração Empresa Escola (CIEE), de São Paulo. O cuidado deve ser redobrado em carreiras com um campo de atuação restrito e que não possibilitam ao estudante mudar facilmente de área de trabalho, como oceanografia, odontologia e telecomunicações. No fim da década de 90, a expectativa de um mercado de trabalho promissor na área de telecomunicações levou à ampliação de vários cursos, como engenharia de telecomunicações, que agora não conseguem preencher todas as vagas. Há trabalho para profissionais de nível técnico e de manutenção, mas poucas vagas para cargos de direção e gerência. Ao mesmo tempo, o jovem que já se decidiu por uma carreira não deve desistir dela por causa do temor do desemprego – fantasma que ronda todas as profissões. "Quem faz a escolha certa tem mais autoconfiança, sobressai e chega ao sucesso", diz Renata Mello, do CIEE.